O historiador João José Reis há pouco tempo um livro, que
ainda não li, mas que já gostei, sobre o título de “Ganhadores:
A greve negra de 1857 na Bahia.” Onde ele relata a primeira greve do Brasil
que se tem conhecimento até os dias de hoje. O próprio autor chama atenção que
diferentemente de outros pequenos movimentos grevistas, que ocorreram
anteriormente, o movimento dos chamados “Ganhadores”, que eram pessoas que
trabalhavam sem a imposição de um feitor, que existiam nas fazendas, pagavam
por semana um dado valor ao seu proprietário, podendo ficar com o excedente do
seu trabalho e na maior das vezes se mantinham (alimentos e roupas) por conta
própria.
É interessante tanto a caracterização do tipo de trabalho, um
passo intermediário entre o escravo que não recebia nada por seu trabalho, para
um escravo que retirada uma mais valia incrivelmente alta, ele recebia uma
parte como um proletário normal. Estes escravos Ganhadores, exerciam diversas
atividades, desde o simples transporte de cargas, até atividade de
profissionais, como pedreiros, marceneiros e até mecânicos, sendo que em
Salvador a maior parte era de carregadores de pessoas em cadeiras, subindo e
descendo as ladeiras da cidade (o preço era mais ou menos estipulado pelo
trajeto).
Porém o mais interessante de tudo, foi o motivo e a forma
que estes escravos escolheram para protestar, não fugindo para quilombos nem em
revoltas organizadas como a mais conhecida Revolta dos Malês, ocorrida quase
meio século antes da greve.
Também é interessante fazer uma relação entre estes escravos
de ganho, os Ganhadores, e os atuais entregadores de refeições de bicicleta que
embora estes últimos não sejam de propriedade de ninguém, a forma de exploração
se aproxima muito, ou seja, ganhos extremamente baixos e um trabalho exaustivo
de subir e descer ladeiras com bicicletas com cargas pesadas nas costas. Também
os Ganhadores, muito deles possuíam suas próprias ferramentas, não moravam com
seus proprietários e pagavam grande parte do valor de seu trabalho para os
proprietários.
Podemos dizer que 167 anos depois da greve dos Ganhadores,
as condições de trabalho se aproximam rapidamente, com as políticas
neoliberais, mostrando que os nossos Ganhadores do século XIX, os primeiros
brasileiros que executaram uma greve bem sucedida, historicamente as milhares
de movimentos operários que a sucederam, resultaram em ganhos que se mostram efêmeros,
pois enquanto houver escravos ou proletários e proprietários dos meios de
produção, no caso dos
Ganhadores os próprios corpos dos escravos, todo e
qualquer movimento para garantir melhores condições de trabalho poderão
retroceder conforme as necessidades dos proprietários.
A comparação entre os escravos de ganho e os atuais
trabalhadores uberizados é inclusive achada procedente pelo autor desta
excelente obra que mostra a história das classes dominadas e não histórias de
reis e rainhas e grandes generais ou proprietários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Favor manter linguagem adequada, críticas são aceitas, porém palavras chulas farão que se delete o comentário.