Quando se joga tudo nos ursos polares ficando sem gelo no Ártico os ambientalistas obscurecem o verdadeiro problema, que os problemas do meio ambiente além serem globais são oriundos de uma soma de problemas locais.
Parece que a frase anterior é algo anacrônica e fora do
contexto da luta pelo meio ambiente, em parte ela é, ou seja, durante muito
tempo o protagonismo de ONGs internacionais, algumas com presidentes de honra
que são caçadores de animais na beira de extinção, retiram da responsabilidade
dos gestores e dos próprios ambientalistas locais, problemas simples ou mesmo
complexos que deveriam ser prioritários que estão próximos a nossa possibilidade
de atuação caindo na armadilha de ficarmos fazendo grandes contas sobre pegada
ecológica de créditos de carbono enquanto esquecemos que a miséria e a pobreza
de enorme quantidade de pessoas bem próximas a nós é mais uma parcela do grande
componente do que chamamos a luta contra a degradação dos oceanos, das águas superficiais
e subterrâneas e principalmente da luta pela sobrevivência da parte mais
vulnerável da nossa população.
Fala-se das queimadas dos resíduos que sobram da floresta
amazônica, porém poucos falam que estas queimadas são produto da invasão do
grande capital contra uma população indígena ou mesmo cabocla que ocupavam
imensas partes desta área e são jogadas e comprimidas cada vez mais para dentro
dos próprios resíduos de mata que ainda nos resta.
Porém também a degradação dos rios em os estados do Brasil,
são provocados principalmente pela falta de condições dos pequenos agricultores
e posseiros que para se sustentar tem que necessariamente atacar com vigor o
meio ambiente para, por exemplo, conseguir lenha para cozinhar ou mesmo caça
para se sustentar.
Parece que o real problema da Amazônia é a única coisa que
incomoda os ambientalistas brasileiros, mas esquecer dos microproblemas
causados pela falta de saneamento ambiental, de políticas concretas de mudança
das políticas de transporte público, de disposição correta de resíduos sólidos,
de uso de madeira para o consumo privado e mais centenas destes pequenos
problemas, que quando unificados produzem danos equivalentes como os que estão
sendo feitos nas nossas florestas remanescentes.
A propaganda macro dos problemas ambientais, sem se começar
pelos pequenos danos que prejudicam aqueles que não tendo lugar para ir, se
colocam em risco das mais diversas formas desde habitar em zonas sujeitas a
inundações, a águas poluídas e outros riscos as pessoas. Esquecem os
ambientalistas que quem mais morre pelo uso inadequado e excessivo de
agrotóxicos são exatamente os nossos proletários rurais que são contaminados em
níveis muitas vezes superior a quem compra uma alface ou um tomate tratados com
estes mesmos agrotóxicos que o trabalhador rural e sua família que mora próximo
recebem dezenas, centenas de vezes mais o veneno do que o nosso consumidor de alface.
Não estou dizendo que com a devastação planetária que se
promove nos dias de hoje, daqui a vinte ou trinta anos grande parte do nosso
planeta se transformará um inferno, ou que estou dizendo é que no dia de hoje a
vida de bilhões de pessoas no mundo já é um inferno, porém o foco de todas as
notícias ambientais é que os níveis dos mares aumentarão alguns centímetros e
muitas colheitas falharão provocando para quem não tem recursos fome e miséria.
O que estou dizendo que se centralizássemos corretamente o discurso ambiental
no microcosmos que a nós confere, a própria militância para o problema macro se
ampliaria mais rapidamente. Porém devemos levar em conta, que estes problemas
micros a serem resolvidos não podem ser feitos sem uma mudança estrutural do
conceito de manejo tanto do planeta como da pequena vila sem água potável, sem
esgoto e sem moradia descente. Este problema estrutural está no verdadeiro
anacronismo de muitas organizações ambientais, que acham que resolverão o
problema do planeta contando com a ajuda de capitalistas e mesmo de oligarquias
reais, que eles mesmo fazem parte do problema.
A solução do problema de uma aglomeração humana sem
condições de vida descente, que chamamos de vilas, malocas, comunidades e
centenas de outros nomes, ferem não só os olhos dos aliados destas organizações
“ambientalistas”, mas o principal, ferem os privilégios destes aliados de
ocasião, que lhes agradam mais dizer que querem resolver o problema dos ursos
do Ártico do que a miséria de uma favela.
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